segunda-feira, 14 de julho de 2008

diário de um ano ruim

Se há um autor que leva o leitor a sério este é John Maxwell Coetzee, prêmio Nobel de literatura de 2003, escritor admirável. Este "diário de um ano ruim" é um romance curioso, com cada uma de suas duas partes (diários) tripartido em narrativas distintas. Duas destas três são francamente ficcionais, mas uma se traveste um tanto como ensaios de encomenda, repletos de opiniões fortes sobre temas comtemporâneos, feitos para publicação na Europa. Cabe dizer que Coetzee nasceu na África do Sul mas radicou-se na Austrália há pouco mais de 15 anos e naturalizou-se australiano em 2006. Por conta disto esta ao menos geograficamente afastado do circuito literário europeu, e seus temas abordam um tanto o impacto das políticas americanas e européias na periferia do mundo. Optei por ler linearmente cada um das histórias separadamente, indo para frente até terminar cada uma delas e depois voltando as páginas iniciais para começar as seguintes (esta foi a escolha natural que eu fiz, mas talvez alguém, um outro leitor, encontre prazer em ler cada uma das três partes de cada página simultaneamente). Os dois ensaios do livro são soberbos, o primeiro sobre temas contemporâneos: terrorismo, liberdade, censura, competição, política, libido, manipulação, jornalismo, economia, sociologia, leis de imigração; o segundo mais focado sobre o indivíduo: o envelhecimento, a morte, a música, o sexo, a literatura, os clássicos, o pensamento, os relacionamentos, o sonho. Nos dois trechos onde os ensaios são refletidos, um majoritariamente feminino e outro majoritariamente masculino, outros temas são utilizados para o autor discutir conosco como se dá a construção e a fruição de um texto literário. Nada do que é humanao é estranho à Coetzee, nada substitui a experiência da leitura de um livro e da reflexão honesta sobre ele parece dizer-nos Coetzee, nada é comparável na vida a influência que um autor forte pode ter sobre cada um de nós individualmente e a espécie humana em geral, asservera Coetzee. Recomendo para qualquer um que ainda crê na capacidade humana de superação de suas trágicas limitações, igualmente humanas. Belo livro.
"Diário de um ano ruim", J.M. Coetzee, tradução de José Rubens Siqueira, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2008) brochura 14x21cm, 248 pág. ISBN: 978-85-359-1244-9

Um comentário:

Gustavo Ferreira disse...

Ola Aguinaldo,

gostei muito do seu blog! util!

abracos!

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osbosques.blogspot.com