quarta-feira, 1 de julho de 2009

questões de honra

Li já uns quatro livros do Begley e gostei de cada um deles. Ele sempre fala de sujeitos endinheirados, suas relações com o sucesso e o fracasso, com o sexo e o amor, com a vida e o temor da morte. Este "Questões de honra" é ambientado neste mesmo universo, mas desta vez acompanhamos a educação e a vida de uma pessoa (mas bem de um grupo de pessoas) e não os sucessos de um adulto já formado, como nos livros anteriores que li dele. O livro começa no início dos anos 1950, quando três rapazes se encontram em um dormitório da tradicional universidade Harvard. Samuel, o narrador, e Archie, um filho de militares, são os "wasp" padrão dos romances de Begley. O terceiro colega de quarto, Henry, é um judeu polonês inteligentíssimo, que certamente serve como alter ego do próprio Begley. As escolhas, as descobertas compartilhadas, as disputas e o exercício de companheirismo ao longo de décadas entre os três são descritos suavamente, organicamente, sem reviravoltas inverossímeis. A importância da amizade e das origens de cada um, bem como o papel da lealdade entre amigos domina todo o livro. Lembramos claro, das nossas próprias relações e histórias. Eu, particularmente, lembrei das minhas amizades que suportaram o tempo e a distância: Sibele, Beth, Katya, Samuel, França, Renato, Toninho, Pérciles e Fernando. No livro há boas reflexões sobre judaísmo, sobre a política americana dos últimos quarenta ou cinquenta anos, sobre os mistérios das relações entre pais e filhos, a vida universitária, as tentativas de ascenção social, a psicanálise, a advocacia, o sexo. Difícil não lembrar de Philip Roth ao ler Louis Begley, mas este último sempre perde na comparação por ser educado, polido demais ou ainda visceral, agressivo de menos. Trata-se enfim de um belo livro, que todo aquele interessado no modo de pensar da elite intelectual e cultural americana, ou seja, os donos do poder econômico de lá, sempre lerão com prazer (pois o sujeito - um advogado que tardiamente se dedicou a literatura - escreve bem à beça). [início 26/05/2009 - fim 29/05/2009]
"Questões de honra", Louis Begley, tradução de Sergio Tellaroli, editora Companhia das Letras (1a. edição) 2009, brochura 14x21, 423 págs., ISBN: 978-85-359-1417-7

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