sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

mientras ellas duermen

Em "Mientras ellas duermen" estão reunidos 14 contos de Javier Marías. Só conhecia três deles (Lo que dijo el mayordomo, Gualta e Una noche de amor), que havia lido em uma edição pequena anos atrás, quando ainda tateava entender este soberbo escritor. Os contos aqui reunidos são realmente muito bons. Na maioria há um clima de mistério, uma toada sobre situações onde não exatamente temos certeza do que é fato e do que é imaginação no discurso do narrador. Os fantasmas, tema caro a Marías, os reais e inclusive aqueles fantasmas entranhados que todos inventamos para tolerar melhor a vida, aparecem nos contos bem mais que um par de vezes. Gostei muito de um conto onde é descrita uma carga de cavalaria durante uma batalha dos tempos de Napoleão. Lembra um tanto um livro do Pérez-Reverte que li recentemente (La sombra del águila). Não porque seja um plágio ou coisa que o valha, mas pelo tratamento bem distinto que os dois autores (que afinal são grandes amigos, além de colegas da Real Academia Espanhola) dão a uma idéia de base comum. O que é tragicômico e coletivo em Pérez-Reverte é dramático e personalíssimo em Marías. Incrível como Marías sustenta o desfecho de situações tensas e invariavelmente surpreende o leitor. Mesmo no texto juvenil incluído nesta coletânia, escrito em um distante 1968 acompanhamos o texto curiosos por tentar emular o final que o autor escolheu. O texto que dá nome ao livro é realmente muito bom. Ficamos a pensar se é mesmo possível uma conversa naquele tom, sobre os temas abordados na trama. É algo impressionante de se ler. Já "Portento, maldicíon" é o mais misterioso dos contos, o mais enigmático e surreal. Penso que talvez o narrador seja o cantor de ópera que aparece em dois romances de Marías ("El siglo" e "El hombre sentimental"), León, ou ainda o tio deste personagem, o velho juiz Casaldáliga. O conto "Una noche de amor" é para ser lido mesmo repetidas vezes com prazer. Ainda tenho muito a aprender com este curioso madrileño (e talvez a felicidade seja saber que tenho ainda um estoque de seus livros por ler - são poucos, mas o suficiente para mitigar meu vício de philobiblon contumaz. [início 31/01/2010 - fim 08/02/2010]
"Mientras ellas duermen", Javier Marías, editora Alfaguara, 2a. edição (2000), brochura 13x21,5 cm, 244 págs. ISBN: 978-84-204-4167-8

2 comentários:

crap disse...

olá. enocntrei teu blog enquanto procurava coisas sobre philip roth. caí aqui e adorei a maneira como você fala dele (ainda não li outras postagens de outros livros, estou me focando mais no roth).
é sempre bom encontrar admiradores do grande escritor que é o roth. esses dias fiz uma pesquisa de preços e resolvi comprar as edições da library of america, começando com os livros do zuckerman e o primeiro volume. conheci-o em 2008, mas foi em 2009 que o li pela primeira vez. achei fabuloso e me encantei com sua maneira de escrever... bem... roth é fabuloso e ponto final.
abraço

crap disse...

olá. enocntrei teu blog enquanto procurava coisas sobre philip roth. caí aqui e adorei a maneira como você fala dele (ainda não li outras postagens de outros livros, estou me focando mais no roth).
é sempre bom encontrar admiradores do grande escritor que é o roth. esses dias fiz uma pesquisa de preços e resolvi comprar as edições da library of america, começando com os livros do zuckerman e o primeiro volume. conheci-o em 2008, mas foi em 2009 que o li pela primeira vez. achei fabuloso e me encantei com sua maneira de escrever... bem... roth é fabuloso e ponto final.
abraço