domingo, 8 de maio de 2011

el sol de breda

Quem teve a fortuna de visitar alguma vez o Museo Nacional del Prado, em Madrid, já foi feliz. Um sujeito pode passar dias a fio imerso nas delícias intelectuais e sensórias que o Prado proporciona, sem nunca se aborrecer. Vagando pelos grandes salões do museu eventualmente encontramos algo que nos chama especialmente a atenção e, a despeito das outras maravilhas, permanecemos um tempo maior desfrutando este achado. Talvez tenha sido isto que fez Arturo Pérez-Reverte ao inventar de colocar um personagem seu (o industrioso capitão Alatriste) em um quadro de Diego Velázquez, o momumental "La rendição de Breda", também conhecido como "Las lanzas". É um quadro político, daqueles feitos de encomenda para louvar um grande feito espanhol, no caso, a rendição da estratégica cidade fortaleza de Breda, nas Flandres, durante as guerras de secessão dos países baixos, no início do século XVII. Cabe dizer que vitórias deste tipo foram raras, na desastrada e custosa tentativa espanhola de manter aquelas possessões. Em "El sol de Breda" Pérez-Reverte faz com que Alatriste e o jovem aprendiz Iñigo Balboa, o narrador dos feitos de seu capitão, participem ativamente das batalhas desta guerra. Posteriormente, quando Iñigo já está de volta a Madrid, auxilia o pintor Diego Velázquez na composição do quadro (onde se vê em primeiro plano o comandante vitorioso, o genovês Ambrogio Spinola, a serviço dos espanhóis, e o comandante derrotado, Justino (Justijn) de Nassau). O livro é bastante movimentado. Pérez-Reverte descreve várias escaramuças e duelos violentos ao longo do livro. A vida nos "Tercios de España" (poderosa unidade militar de infantaria) era particularmente bruta. Alatriste é um personagem calado, que age por instinto e tem um código de conduta estrito. Faz-se respeitar tanto entre seus iguais, soldados à pé, quanto entre os nobres que decidem os destinos da guerra. A realidade histórica das guerras de secessão das Fladres é muito mais complexa do que o abordado no livro, claro, mas se trata mesmo de um livro ligeiro, de entretenimento. Além de Velázquez, Pérez-Reverte inclui entre os amigos de seu capitão dramaturgos como Calderón de la Barca, Francisco de Quevedo e Lope de Vega. Esta edição da Alfaguara inclui boas ilustrações ao longo do texto (e uma trucagem, pois a ilustração da capa espelha o quadro original de Velázquez, mas este é um detalhe bobo). Enfim, "El sol de Breda" é um romance honesto e que prende o leitor, sem aborrecê-lo, por um bom par de horas. Vale. [início 28/04/2011 - fim 30/04/2011]
"El sol de Breda", Arturo Pérez-Reverte, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones) , 5a. edição (1999), brochura 17,5x24 cm, 261 págs. ISBN: 84-204-8312-5 [edição original: Alfaguara, 1998]

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