sábado, 28 de maio de 2011

ficção de polpa: crime!

"Ficção de Polpa" é um projeto bastante inventivo, uma curiosa parceria entre designers, ilustradores, tradutores e escritores (claro). O trabalho de organização dos contos e preparação dos livros é de Samir Machado (acredito que ele seja também o idealizador do projeto como um todo). Este é o quarto volume publicado (pela Não Editora de Porto Alegre) e trata de histórias de crime (não li os demais, mas vi que eles reunem uns cinquenta contos de horror, contos fantásticos e contos de ficção científica). Este volume reune sete histórias, seis delas originais e uma já antiga, traduzida, de um escritor inglês contemporâneo de Arthur Conan Doyle chamado Ernest Bramah (não gostei nem do personagem - um detetive cego - nem da história, paciência). Os seis contos originais são assinados por Carlos André Moreira, Carlos Orsi, Carol Bensimon, Octávio Aragão, Rafael Bán Jacobsen e Yves Robert. Carlos André Moreira conta a história mais longa. Ele inventa um detetive/investigador porto-alegrense de origem polonesa, Roszynski, que se envolve em um movimentado caso de roubo e morte. Ele inclui vários dos elementos típicos das histórias de detetive: manias, bons personagens coadjuvantes, passado algo cifrado do personagem principal, ambientação ancorada na paisagem marcante de uma cidade, no caso, Porto Alegre. É a melhor história do livro e funciona realmente bem, mas ele explica demais a trama e os sucessos do caso, como se o leitor não fosse capaz de imaginar nada por si só. De qualquer forma Roszynski é o tipo de personagem que dependendo do tino e paciência do autor pode ser bem explorado literariamente, coisa de se anotar. O conto de Carlos Orsi emula o tradicional problema de crime em uma sala fechada, adaptando-o para o formato de um destes reality shows bobos que infestam a televisão. Não é pretensioso mas também não entusiasma. Em seu conto Carol Bensimon põe várias vozes a comentar um crime na cidade francesa de Étretat (quem leu as histórias de Maurice Leblanc e seu personagem Arsène Lupin certamente vai se lembrar da agulha de Étretat, cenário da história de Carol). O conto é bem escrito, mas a história não funciona muito bem. Octávio Aragão faz uma paródia bem humorada das histórias de Sherlock Holmes, usando também os personagens do Drácula de Bram Stoker. Médio. Rafael Jacobsen retoma as histórias de açougueiros que são assassinos seriais, colocando três vozes para narrar crimes e investigações, supreendendo mesmo no final. Interessante. Por fim a história de Yves Robert, mais bem um conto psicológico bem humorado que outra coisa, brinca com os poderes mágicos que pessoas não treinadas em estatística ou lógica associam aos números. A trama é boba, mas a graça do conto está no registro do português de Portugal dele (ele é português de nascimento afinal de contas). O cuidado da edição merece mais um par de linhas. O livro é montado com o formato das Pulp magazines da primeira metade do século passado, aqueles livretos de baixo custo impressos em papel barato, também produzidos no Brasil (meu pai e meus tios mantinham pilhas deles em uma edícula, lembro-me bem). O tamanho, a paginação em duas colunas, a arte marcante da capa, as cores e as várias ilustrações com propagandas antigas dispersas pelo livro enfatizam a proposta retrô. Belo projeto. Um dia destes procuro os outros livros. Bueno. Leitura honesta para estes dias de inverno, mas outros temas mais robustos me esperam. A ver. [início 20/05/2011 - fim 21/05/2011]
"Ficção de polpa: crime!", Carlos André Moreira, Carlos Orsi, Carol Bensimon, Octávio Aragão, Rafael Bán Jacobsen, Yves Robert, Ernest Bramah, Samir Machado de Machado (organizador), Porto Alegre: Não editora, 1a. edição (2011), brochura 12x18 cm, 160 págs. ISBN: 978-85-61249-18-2

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