sábado, 8 de setembro de 2012

freya das sete ilhas

"Freya das sete ilhas" é uma história de amor. Todavia Conrad não é nada condescendente ou piegas ao contar os sucessos dela, um triangulo amoroso clássico. Uma garota chamada Freya, filha de Nielsen, um velho dinamarquês radicado em uma possessão holandesa no Oceano Índico, tem planos de casar-se com um intrépido capitão de navio (um inglês chamado Jasper Allen, que aparentemente alterna trabalhos convencionais e o contrabando). Um tenente chamado Heemskirk também se interessa por Freya e usa seu cargo na marinha holandesa para pressionar o pai da garota, ameaçando expulsá-lo da ilha onde vive. Conrad utiliza como subtrama o conflito de interesses econômicos e políticos entre ingleses e holandeses nos mares do sul, no início do século passado. O narrador relembra esta velha história ao receber uma carta com o relato do desfecho do caso, despertando nele nostalgia de seus dias como capitão de longo curso, bem como sua amizade com todos os personagens. De fato não é a narrativa mais poderosa que já li dele, mas Conrad sabia mesmo apresentar a seus leitores análises convincentes sobre as sutis mudanças de humor dos personagens. O livro inclui uma boa apresentação de Antonio Olinto. [Em tempo: (i) O livro é bem editado, mas na ficha catalográfica há um erro absurdo, daqueles que irritam o leitor e o fazem desconfiar da qualidade do que tem em mãos. (ii) Li no The Conradian que Conrad não tinha muito apreço por ela, considerando-a uma bobagem feita para jornais, sem muito estofo. Após a pequena repercussão obtida na Inglaterra ele teve dificuldades de vender o texto para ser publicado nos Estados Unidos. Todavia ali o livro vendeu muito bem e ele recebeu muitas cartas reclamando do destino reservado a seus protagonistas. Ele, que esperava reconhecimento por obras mais ambiciosas (Nostromo e O agente secreto são do mesmo período) teria ficado intrigado com o gosto de seus leitores americanos. Aparentemente nem a dicotomia num mesmo escritor - que consegue produzir textos intelectualmente ambiciosos e literatura de entretenimento igualmente interessantes -, nem o controle sobre a recepção de uma obra no público leitor são questões realmente novas. (iii) Sim, existe uma revista acadêmica dedicada exclusivamente a análises de obras de Joseph Conrad. Adorável e surpreendente é esse maravilhoso mundo das letras].
[início 30/08/2012 - fim 31/08/2012]
"Freya das sete ilhas", Joseph Conrad, tradução de Julieta Cupertino, Rio de Janeiro: editora Revan, 1a. edição (2003), brochura 14x21 cm, 158 págs. ISBN: 85-7106-288-9 [edição original: Freya of the Seven Isles (Londres: The Metropolitan Magazine - 'Twixt Land and Sea) 1912]

2 comentários:

Vitor Biasoli disse...

Pelo jeito, mesmo uma obra menor de Conrad vale a pena.
Valeu a indicação, Aguinaldo.
Conrad é desses autores que não podemos esquecer.

Aguinaldo Medici Severino disse...

Verdade Vítor. É coisa para ler num final de semana, sem espantos, mas o sujeito sabe amarrar as coisas e surpreender o leitor. Abraços.