sábado, 15 de setembro de 2012

o fim das forças

Publicado originalmente em 1902 [em um volume que incluía também "Youth" (1898) e famoso "Heart of Darkness" (1899)] encontramos nesse "O fim das forças" uma história de estoicismo e coragem. O título original pode ser traduzido mais literalmente por "o fim da corda". Joseph Conrad nos conta a história de Henry Whalley, um velho e experiente capitão que é forçado a voltar a navegar por conta da falência de seu banco (e consequente perda de toda riqueza que ele havia acumulado durante a vida). Ele faz isso pois tem um compromisso moral com sua filha única, dependente financeiramente dele apesar de já estar casada há muitos anos. Whalley sabe que vive uma situação anacrônica. O tempo dos capitães de navio independentes e venturosos já faz parte do passado. As rotas comerciais importantes estão sob disputa de grandes companhias inglesas, holandesas e alemãs. Mas o projeto de Whalley é simples: tornar-se sócio de algum navio mercante durante um período curto, economizar o máximo possível e entregar todo o dinheiro que amelhar para a filha (que já vive na Austrália). Whalley, famoso por suas habilidades no comando de velozes "clippers", navios à vela largamente utilizados no século XIX, acaba tornando-se capitão de um navio à vapor, o Sofala, cujo proprietário também atua como maquinista chefe. Este navio percorre rotas comerciais secundárias na região de Singapura, no Oceano Índico. A história é concisa. Um terço dela apresenta Whalley e suas tribulações até conseguir a sociedade no Sofala. Nos capítulos correspondentes às duas últimas terças partes encontramos Whalley já no terceiro ano desta sociedade, prestes a terminar o que havia planejado. As descrições da psicologia e/ou caráter dos personagens criados por Conrad são muito poderosas, impressionantes mesmo. Rapidamente sabemos como se comportam, o que pensam, do que são capazes Massy (o maquinista-proprietário), Sterne (o imediato), John (o segundo maquinista), Van Wyk (um plantador de tabaco, amigo de Whalley, "Serang" (o piloto malaio de Whalley), Ned Elliot (um capitão contemporâneo de Whalley). Na transição entre a primeira parte do livro e a final, Conrad cria um fato surpreendente que prenderá o leitor ao destino do velho capitão, até a última página. Não é o desfecho da história que importa, mas sim a forma e a maestria com que Conrad acumula idéias e sensações, diálogos e possibilidades, parecendo estar literalmente nos transportando para o conves de navio em um grande mar, para vermos de perto "o fim das forças" do capitão Whalley. Bom livro.
[início: 08/09/2012 - fim: 13/09/2012]
"O fim das forças", Joseph Conrad, tradução de Julieta Cupertino, Rio de Janeiro: editora Revan, 1a. edição (2000), brochura 14x21 cm, 190 págs. ISBN: 85-7106-211-0 [edição original: The end of the Tether (Youth - a narrative; and two other stories (Londres: Blackwood's Magazine) 1902]

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