terça-feira, 16 de outubro de 2012

libro de las bestias

Como classificar esse texto, produzido no final do século XIII, como identificá-lo? Trata-se de um texto com pretensões didáticas, um livro de doutrinação política, religiosa e filosófica. Foi escrito em catalão, por um sujeito nascido em Maiorca, a maior das Ilhas Baleares espanholas, chamado Ramon Llull. Provavelmente foi escrito em Barcelona, mas publicado em Paris, quando Llull vivia sob a proteção de Filipe IV (da França). "Llibre de les bèsties" é parte de um livro maior, conhecido como "Fèlix, o Llibre de meravelles", no qual são discutidos e apresentados o que se costuma chamar de filosofia natural ou filosofia da natureza. Os títulos em catalão dos dez livros de Fèlix são: Sobre Déu, Sobre els àngels, Sobre el cel, Sobre el elements, Sobre les plantes, Sobre els metalls o minerals i l'alquimia, Sobre els animals, Sobre l'ésser humà en tots els seus aspectes, Sobre el Paradis, Sobre l'Infern. Aprendi isso na boa introdução incluída no livro, assinada pelo tradutor. O texto em si é pequeno, mas saboroso, deixa-se ler com tranquilidade. Em "Libro de las bestias" Llull conta histórias antropomorficas, contos morais em que animais interagem e experimentam situações típicas dos homens. As parábolas lembram muito daquilo que encontramos nos livros de "As mil e uma noites". Alegoricamente Llull ensina valores que um rei deve seguir para ser sábio e justo, além de previní-lo dos maus conselheiros e aduladores. São sete curtos capítulos nos quais a história avança linearmente. Os animais devem escolher um rei. Um grupo defende o cavalo, um outro o leão (mas vários outros igualmente cobiçam o trono: o Urso, a Onça, o Leopardo, a Raposa). Após alguma discussão entre aqueles que comem ervas e aqueles que comem carne o leão é eleito. A partir daí o leitor segue uma inevitável sucessão de intrigas palacianas, traições, reviravoltas e mortes violentas. O homem participa, mas de longe, pois os animais já são capazes de entender que dele só se pode esperar desgraças e morte. Tudo é muito ingênuo e simplista, mas divertido. Llull obviamente defende um mundo ordenado, onde uns poucos governam sob inspiração divina enquanto a maioria os obedecem cegamente. Não há uma reflexão consistente sob o exercício do poder (como encontramos por exemplo, em "O príncipe", de Maquiavel). O tom é mais próximo das histórias de fadas. Pena que não há porque acreditar que os homens do século XIII sejam muito diferentes dos homens deste século XXI (notadamente em um país miserável como o Brasil). Patético. 
[início: 08/10/2012 - fim: 14/10/2012]
"Libro de las bestias", Ramón Llull, Introducción, traducción y notas de Laureano Robles Carcedo, Madrid: editorial Tecnos (grupo Anaya) colección Clásicos del Pensamiento, 1a. edição (2006), brochura 13x20 cm, 82 págs. ISBN: 84-309-4432-X [edição original: Llibre de les bèsties (Llibre de meravelles) Barcelona/Paris, 1287/1289]

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