segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

do que eu falo quando eu falo de corrida

Nunca havia lido nada de Haruki Murakami. Mas esse "Do que eu falo quando eu falo de corrida" não é nenhum de seus romances mais conhecidos (Norwegian Wood, Kafka à beira-mar, Pinball/1973 ou 1Q84). Trata-se de relato biográfico, onde Murakami descreve sua prática como maratonista e triatleta (e a influência destas atividades físicas, incrivelmente contínuas e de alto desempenho, em sua vida e produção literária). As reflexões não são exatamente originais (todo aquele que já praticou exercícios regularmente as conhece e/ou vivencia, cedo ou tarde), mas são considerações realmente interessantes. Segundo ele praticar exercícios regularmente é uma atividade solitária e naqueles momentos em que corremos, nadamos, usamos uma bicicleta ou mesmo nos exercitamos em uma academia) nos transportam a uma espécie de transe similar ao alcançado quando lemos (ou escrevemos, como no caso dele) ficção. O relato alterna passado e o presente na forma de digressões biográficas. Ficamos sabendo como ele abandonou uma aparentemente promissora atividade comercial (como dono de um bem sucedido bar de jazz em Tóquio), arriscando-se a viver de sua produção literária - como ele começou a escrever relativamente tarde (já tinha quase trinta e cinco anos quando publicou seu primeiro livro) não estava muito seguro da viabilidade do projeto. Ele diz também como começou a correr todos os dias para relaxar do tempo em que ficava concentrado na escrita e como passou a progressivamente a correr distâncias mais longas, até determinar-se a correr ao menos uma maratona todos os anos a partir de então. Após ter completado mais de vinte e cinco maratonas, ter começado a praticar triatlo e ter experimentado uma corrida de 100 Km (uma legítima ultra-maratona), Murakami parece satisfeito, tanto com os livros que escreveu, quanto de sua superação pessoal. Apesar do risco inerente de relatos desta natureza tornarem-se registros algo místicos, revelações espirituais e filosóficas, Murakami consegue manter-se objetivo, sem resvalar para sentimentalismos, pieguices ou bobagens de auto-ajuda.  Talvez livros assim só sejam de fato interessantes para aqueles que de fato gostem de correr ou nadar regularmente. Vamos em frente (e a ver se encontro algum de seus romances, para descobrir se ele tem mesmo estofo). Vale.
[início 15/12/2012 - fim 17/12/2012]
"Do que eu falo quando eu falo de corrida: um relato pessoal", Haruki Murakami, tradução de Cássio de Arantes Leite, Rio de Janeiro: editora Objetiva, 1a. edição (2010), brochura 15x23 cm, 150 págs. ISBN: 978-85-7962-027-0 [edição original: Hashiru Koto Ni Tsuite Kataru Toki Ni Boku No Kataru Koto / 走ることについて語るときに僕の語ること (Tóquio: Bungeishunjū) 2007]

2 comentários:

vera maria disse...

Gostei dele :-) abraço, clara

vera maria disse...

Gostei dele :-) abraço, clara