Ainda em 2010 li "O homem é um grande faisão no mundo", de Herta Müller, em sua tradução espanhola, mas ao tomar contato dias atrás com o interessante "Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio" resolvi voltar aos textos de ficção dela. A história é terrível, mas lemos o livro com prazer. Agora que sei alguma coisa de factual sobre a vida de Herta Müller (principalmente o processo kafkiano que passou para conseguir emigrar da Romênia para a Alemanha, no final dos anos 1980) a história ganha algo mais, como se a realidade do que foi vivido por ela ressoasse de outra forma naquilo que é inventado (Javier Marías - citando Isak Dinesen - já nos ensinou: Também a realidade tem de ser inventada). Não tenho muito que acrescentar ao que já escrevi antes. "É um livro interessante, que se lê quase de um folego só. Apesar de
curto, é realmente bem escrito, está repleto de imagens lindíssimas e
descrições muito poderosas. Nunca havia lido nada sobre a Romênia,
apesar de conhecer um tanto sua terrível história recente. Um país que
experimenta uma ditadura brutal como a Romênia só se redime mesmo por
acaso. Herta Müller conta uma história envolvendo a minoria alemã de uma
região da atual Romênia (ela conta a vida oprimida neste país, uma
verdadeira ratoeira). Com o final da segunda guerra mundial esta minoria
passa a ser hostilizada e prejudicada economicamente. O sonho de todos
eles é conseguir um passaporte que viabilize a emigração para a rica
Alemanha, que emergiu pujante poucos anos após a guerra, enquanto a
Romênia se afundou na pobreza intrínsica do modelo socialista. Um
operador do moinho de uma pequena cidade desta região de minoria alemã
vive com sua mulher e filha. A primeira viveu na Rússia comunista as
agruras do pós-guerra. A garota tem planos de emigrar e formar uma
família (e é ela quem vai conseguir - a alto custo - os passaportes para
a família). Há vários personagens interessantes: um prefeito corrupto,
um padre venal, um carpinteiro misógino, um peleteiro cruel, um
guarda-noturno cansado. Há muitas cenas fortes no livro: uma
masturbação, um velório sobre a chuva, a escolha de um presente para a
filha, uma caminhada pelas montanhas, a descrição dos hábitos das
corujas, a nostalgia da cidade. Apesar do tema ser forte o livro é
muito delicado. Se é que ainda existe um tolo neste mundo que ainda se
ilude com as experiências cruéis do comunismo, deveria ler este livro
antes de voltar a emitir algum juízo besta. Bueno. Gostei muito de ler.
Aprendi um tanto". É isso. Recomendo Herta Müller uma vez mais. E vamos em frente.
[início - fim: 15/03/2013]
"O homem é um grande faisão no mundo: Um conto", Herta Müller,
tradução de Tercio Redondo, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2013), 14x21 cm., 133 págs., ISBN:
978-85-359-2216-5 [edição original: Der Mensch ist ein großer Fasan auf der Welt: Eine Erzählung (Berlin: Rothbuch Verlag) 1986]
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