quarta-feira, 3 de julho de 2013

contos maravilhosos infantis e domésticos 2

Nesse volume encontramos a tradução de 70 narrativas fantásticas, 70 contos de fada, como costumamos comumente chamá-los, parte do segundo tomo das histórias compiladas pelos irmãos Grimm e publicadas em 1815 (o primeiro tomo incluí 86 contos e foi publicado originalmente em 1812). A bem da verdade esta não é a versão definitiva dos contos, que foram trabalhados continuamente por eles e mereceram diversas modificações. De qualquer forma é divertido ler o conjunto de histórias, que se é muito heterogêneo, inclui coisas bem interessantes. A edição da Cosac Naify inclui uns mimos para o leitor: o prefácio original do livro, folhas coloridas, capa robusta com impressão em alto relevo, uma caixa que acomoda bem os dois tomos e diversas ilustrações do gravador, poeta e cordelista pernambucano J. Borges. Apesar de conhecer e gostar muito do trabalho de J. Borges acho que os contos e as ilustrações dele não funcionam bem juntos, parece algo artificial, estranho (o que prejudica os dois registros, o literário e o plástico). Paciência. Já as histórias se defendem sozinhas. Algumas são bem engenhosas e longas, outras bem curtas e algo toscas. Há quase sempre um jogo mental nelas, uma repetição que envolve três irmãos, três irmãs ou três amigos (os mais jovens sempre são mais espertos e afortunados). Histórias envolvendo os números dois, quatro, oito e doze também se repetem várias vezes. Quase sempre encontramos metamorfoses amalucadas (não apenas os homens se transformam em animais e vice-versa, mas também em objetos inanimados). Nada é politicamente correto, nem exatamente moral. Há também muita violência (gratuita quase sempre, e não exatamente justificada) nas histórias. Como bem lembra Robert Graves em relação aos mitos gregos, é importante tentar distinguir os mitos autênticos de vários outros tipos de registros: como alegorias filosóficas; sátiras; contos; propaganda política; lendas morais; anedotas e narrativas (romanceadas, épicas ou realistas). Digo isso pois muitos dos contos de fada deviam ter funções sociais bem distintas do puro entretenimento. Preciso estudar isso melhor, confesso. Os contos mais conhecidos, como Rapunzel, Chapeuzinho vermelho, A gata borralheira, O gato de botas e A bela adormecida fazem parte do primeiro tomo destas histórias, que ainda não li, pois emprestei aquele volume ainda nas férias de verão para don Albano Pepe, amigo querido, que parecia à época urgente de imersão na mitologia e no fantástico. É tempo. Precisamos flanar pelos campos de Itaara e conversar um dia sobre estes dois livros. Evoé.
[início: 30/04/2013 - fim: 02/07/2013]
"Contos maravilhosos infantis e domésticos, 1812-1815 - tomo 2", Jacob Grimm, Wilhelm Grimm, ilustrações de J.Borges, tradução de Christine Röhrig, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2012), brochura 16x21,5 cm., 288 págs., 19 ils., ISBN: 978-85-405-0266-6 [edição original: Kinder und Hausmärchen / 1812-1815 (Berlin: Georg Andreas Reimer) 1815]

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