quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

impossível como nunca ter tido um rosto

De Ricardo Aleixo só havia lido "Modelos Vivos", cujos poemas vi e ouvi ditos por ele mesmo num dia especial de 2014, lá na Casa das Rosas, usina das letras paulista sempre bem capitaneada pelo vate Frederico Barbosa. Soube que ele estava trabalhando num livro novo e encomendei um exemplar. E então recebi, no início do último dezembro, direto lá das terras altas do Campo Alegre de Belo Horizonte, esse "Impossível como nunca ter tido um rosto", seu livro mais recente. Estão nele reunidos 32 poemas produzidos entre 2010 e 2015. Trata-se de uma produção independente, mas nem de longe artesanal. O livro é um objeto arte, que alegra o dia do leitor que tenha algo de esteta. Encontramos ilustrações muito bonitas, reproduções fotográficas tratadas digitalmente. A tipografia, capa e guardas, toda a editoração, capturam o olho daquele leitor que aprecia o processo de construção dos livros (como já nos ensinou o Emanoel Araújo). A especial produção gráfica do livro é assinada por Mário Vinicius (o projeto pode ser visto aqui). Os poemas se enfeixam em séries serpeantes, em conjuntos gráfica e conceitualmente temáticos, estruturados. Alguns parecem "stanzas" de um projeto maior, de um longo e outro poema maior, que está sendo gestado. Dois dele  (Isso que não se cansa de nunca ter chegado e Acima ~ abaixo ~ de um lado ~ e de outro ~ à minha frente ~ e ~ atrás de mim) chamam a atenção pela forma como expõem ofício e biografia do autor. Não são poemas que se deixem ler com música, ruídos ou aperitivos (pois as vezes lemos poesia e prosa displicentes e vagos, ai de nós). Esses de Aleixo cobram atenção e tempo, disciplina e reflexão. Alguns sabem de uma presença mítica, simbólica, que não é grega, mas parecem denunciar travessias de um mar urbano, como os gregos faziam num mar de verdade; ecoam enfrentamentos e experiências urbanas, mas não aquelas expressas na arquitetura ou ruas, antes sim as que tratam dos homens e mulheres, seres indistintos que povoam a urbe. Aleixo fala com várias mulheres nos seus poemas, assim como Shakespeare conversa com uma Dama Negra em seus sonetos  Gostei especialmente de Na noite calunga do bairro Cabula, que fala de uma noite baiana e terrível; de Rosto, que dá nome ao livro e do forte e preciso Conheço vocês pelo cheiro. O livro inclui um prefacio assinado por Dirceu Villa e uma boa apresentação assinada por Carlito Azevedo. Num vídeo de um programa de televisão mineiro ele mesmo explica algo de seu livro que se tornou possível. Boa. 
[início: 08/12/2015 - fim: 11/02/2016]
"Impossível como nunca ter tido um rosto", Ricardo Aleixo, Belo Horizonte: Produção Associada Ricardo Aleixo e Fatima Augusta de Brito, 1a. edição (2015) brochura 13x23 cm., 76 págs., série 1 (34/100), sem ISBN.

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