terça-feira, 17 de outubro de 2017

millor: obra gráfica

"millôr: obra gráfica" é um mimo produzido pelo Instituto Moreira Salles como catálogo de uma exposição onde foram reunidos 500 desenhos originais de Millôr Fernandes (que correspondem apenas a uma parte bem pequena da produção plástica dele, cabe lembrar). Essa exposição aconteceu no período entre abril e agosto de 2016, no Rio de Janeiro. Caso tivesse tido ciência deste livro antes o teria comprado e enviado a meu pai, grande admirador do Millôr, mas meu pai, eu sei, morreu há quatro meses. O original Aguinaldo Severino era um homem de manias, comprava regularmente jornais e revistas. Uma das que comprou até sua extinção foi a Revista O Cruzeiro, que lembro-me folhear desde muito pequeno, equilibrando-a nas mãos (era uma revista grande). Pois foi na Revista Cruzeiro que Millôr publicou boa parte do material da exposição do IMS e resta agora reproduzido neste belo catálogo. Artista autodidata, de muitos talentos, pois foi jornalista, dramaturgo, humorista, tradutor, editor, gravador, artista gráfico e plástico. O livro inclui três curtos ensaios críticos, assinados por Agnaldo Farias, Paulo Roberto Pires e Julia Kovensky. Inclui também uma cronologia biográfica (assinada por Jovita Santos de Mendonça) e indicações sobre a publicação original dos 500 desenhos reunidos na exposição. Os trabalhos estão divididos em cinco grandes conjuntos temáticos, não cronológicos: "Millôr por Millôr", autorreferentes, marca registrada dele; os trabalhos do caderno "Pif-Paf", da revista O Cruzeiro, entre 1945 e 1963, sobretudo leiautes, ainda com as indicações sobre o tamanho da mancha da edição; "Brasil", esse tema obsessivo dele, sempre numa relação de amor e ódio, com humor mas com sarcasmo; "Condição humana", trabalhos mais líricos, filosóficos, contidos; e "À mão livre", os mais autorais, no sentido em que fala neles não o cronista de costumes e de política, mas o artista plástico, o autor criativo que experimenta técnicas, materiais, cores e formas. Trata-se de um livro fartamente ilustrado, com reproduções fotográficas de seu estúdio/atelier (uma cobertura que ele ocupou por quatro décadas, em Ipanema). Os textos rendem homenagem ao sujeito complexo e irrequieto, inventivo e mestre do humor, curioso sobre as técnicas que surgiam (foi um dos primeiros artistas gráficos a incorporar a computação em sua produção). A edição é muito bem cuidada e destaca toda a força de Millôr na preparação dos originais, na equilíbrio das cores, na reinvenção de alfabetos e tipografias, nos grafismos. Poderia classificar esse livro aqui como um genuíno livro de arte, mas vou me render a classificação original do IMS, como catálogo. Esse sim é um livro para se folhear com calma e sem critério, sem pressa. Na falta dele, o quê fazer? Bueno. Desde 2013 o IMS é mantenedor do acervo original de mais de seis mil desenhos, impressos e gravuras de Millôr (os trabalhos e objetos de outra natureza - obras teatrais, obra literária, biblioteca - foi dividido entre outras instituições). Essa exposição não existe mais, mas o leitor curioso pode dar uma espiada em alguns registros do acervo no site do IMS. Assim sendo, vá rá, bom divertimento. E Evoé Millôr, evoé!
Registro #1224 (catálogo #7) 
[início: 11/06/2016 - fim: 11/10/2017]
"millôr: obra gráfica", Millôr Fernandes, São Paulo: Editora Instituto Moreira Salles, 1a. edição (2016), brochura 23,5x30 cm, 288 págs. ISBN: 978-85-8346-033-6


Nenhum comentário: