segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

arte e natureza

Só hoje, após um mês de descanso, retomo os meus registros (mas, já se sabe, os livros continuaram a ser lidos). Os primeiros dias do ano foram dedicados aos preparativos da formatura da Natiuska DC, no dia 06/01, justamente o dia de seu aniversário (era também o dia de aniversário de doña Vic, que acrescentou um sortilégio extra às alegrias do dia). Depois foram as aventuras nas terras altas de Itaara que me afastaram de um computador. E, como Proust já nos ensinou, o hábito, fiel camareiro, nos acostuma a qualquer novo arranjo de nosso cotidiano, por mais vagabundo, condenável e inútil que seja. Carrego do ano passado, atrasados, uma boa cota de registros de leitura, cousas que ou os aborrecimentos dos últimos dias do ano ou as alegrias das primeiras semanas de janeiro impediram-me fazer. Paciência. Para refrear algo da ansiedade fiquei nas ultimas semanas alternando leituras bem variadas (Elena Ferrante, Donna Leon, Otaviano Helene, Laurence Sterne, Peter Sloterdijk, Bashô, Umberto Eco, Teolinda Gersão) e as delicias desse "Arte e Natureza", edição bilíngue da Luste Editores. Comprei-o ainda no inicio do ano passado e o dei de presente para doña Helga, que de fato é senhora desses dois assuntos, por instinto, índole, compromisso acadêmico e vontade. Trata-se de um volume precioso, repleto de reproduções fotográficas e curtos textos, que contextualizam imagens de obras e museus. Serena Ucelli di Nemi organiza e assina o volume, fez a curadoria dos museus e obras descritas, mas quem assina os textos é Waldick Jatobá. Ambos são bastante respeitados no circuito de arte contemporânea. O livro fala de 27 propostas museológicas, de parques de escultura (ou parques escultura), museus a céu aberto, onde as obras artísticas e a paisagem natural se fundem em algo único, especial, dialogam entre si, oferecem ao espectador, uma experiência a ser desfrutada por pelo menos quatro dos cinco sentidos. Como Serena Ucelli fala na curta introdução de seu livro, os critérios de escolha dos espaços apresentados no livro foram: (i) A qualidade artística das peças e a relevância dos artistas dos acervos citados; (ii) O respeito ao meio ambiente natural onde foram instalados os museus, a harmonia alcançada; (iii) Os parques onde um máximo de possibilidades de interação e contato direto é oferecido ao visitante; (iv) Os parques escultura mais antigos e tradicionais, (v) Os parques com as obras mais monumentais tanto no tema quanto na forma. O leitor viaja pelos continentes guiado por Serena e Waldick. Do Brasil o leitor encontra inevitavelmente Inhotim, aquela jóia incrustada nas terras altas das Minas dos Matos Gerais (Já falei de meu assombro ao visitar aquele espaço, em 2012, quando resenhei "Através: Inhotim"). Mas se a proposta de Inhotim parece única, sobretudo pelo paisagismo imaginado originalmente por Burle Marx e as galerias muito afastadas uma das outras, os demais 26 parques descritos em "Arte e Natureza" encantam com igual vigor, mostram similar beleza e encantamento. Serena e Waldick mostram belíssimos museus a céu aberto em diversos países da Europa, na América do Norte, no Caribe, no Japão, na Austrália, na África do Sul e em Israel. Difícil dizer para qual eu iria hoje mesmo caso fosse possível eleger apenas um. O Grenada Underwater Sculpture Park é o que mais me impressionou, mas eu mal sei nadar, nunca mergulhei, não poderia conciliar a tensão do mergulho e a fruição estética das obras. O Springhornhof (na Alemanha), O Kröller-Müller Museum (na Holanda) e o Benesse Art Site Naochima (no Japão) também me pareceram especiais. O leitor pode ter uma ideia modesta do que é descrito no livro no site da editora (clika!). ÔBeleza. Feliz ano, para você e todo mundo. Um adendo: encontrei um link onde se fala de outros museus a céu aberto brasileiros, não descritos no livro de Serena e Waldick: (o Felícia Leirner, em Campos do Jordão; o Oficina Brennand, no Recife; e o Parque Carembeí, no Paraná): clika! Um outro adendo: Seguirei o ano nessa toada de hibridizações. Vou tentar falar mais sobre os livros de arte e de ciência, mais sobre mitologia e os gregos, mais clássicos e mais genuínos divertimentos. Sempre buscarei as propostas literárias mais fortes, tentarei preocupar-me menos com os indigentes morais e escravos mentais, os idiotas úteis e palhaços por vocação que habitam esse desgraçado país. Logo veremos. 
Registro #1251 (livro de arte #22) 
[início: 22/12/2017 - fim: 20/01/2018]
"Arte e Natureza: Museus a céu aberto", Serena Ucelli di Nemi (curadoria) e Waldick Jatobá (texto), São Paulo: Luste Editores, 1a. edição (2016), capa-dura 29x29 cm., 278 págs., ISBN: 978-85-61914-219-9

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